quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Eu tive um pinto



                           Eu tive um pinto. Sim, eu tive um pinto e nunca vou me esquecer disso. Ele era um pinto sem nome. Não tinha nome o pinto. Como pude deixar o pinto sem nome? Não sei como pude.
                        Eu gostava de criar pintos quando era pequena. Tive vários, mas esse foi especial. Esse marcou a minha vida. Depois dele, nunca mais tive outro pinto. Nunca mais tive outro pinto, porque não poderia mais suportar a dor de ver um pinto morrer. Você já viu um pinto morrer? Não queira. Ver um pinto morrer já é difícil, imagina um pinto filho?
                          Lembro bem que este pinto era um pinto  fagueiro que vivia correndo pela casa. Sim, meu pinto era solto. Era um pinto livre! E com toda a sua liberdade o pinto vivia correndo atrás de mim. Piava e corria, corria e piava. Passei meses traumatizada por conta da sua morte prematura, afinal ele era apenas um filhote.
                        Em uma noite quente corri até a cozinha para beber água. Como não alcançava o copo, tive que subir no beiral da pia. Ao descer eu pisei no pinto. Meu Deus, eu pisei no meu pinto! Não sei qual dos dois estava mais desesperado. Se era eu ou o pinto. Ele corria de um lado pro outro agonizando, ou melhor, piando, com as tripas de fora. E eu pulava e gritava como uma louca sem saber o que fazer. Até que ele morreu.  Morreu o meu pinto. Meu pinto morreu e eu não tive coragem de enterrá-lo. Alguém jogou fora por mim. E sobre este pinto sem nome nada mais tenho a dizer do que aqui foi escrito. Descanse em paz pinto sem nome. Adieu!